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  • Foto do escritorAndré Soltau

Sons e palavras: quem alimenta quem?

Atualizado: 24 de mar. de 2020

André Soltau . Outono 2020






Ela está em todos os recantos da vida. Entramos em um elevador, e lá está ela. Sentamos na fila de espera do banco, e é possível ouvir o som alto dos potentes fones de ouvido do adolescente. Se costumamos olhar televisão, temos música acompanhando novelas, filmes comerciais.


Pense um pouco sobre quantas músicas você ouviu nas últimas 24 horas. Duvido que você tenha passado 24 horas sem ouvir uma música.

Música está em nossa vida de um modo tão sutil que às vezes nem percebemos que escolhemos vários tipos para as várias situações da vida. Dançamos, namoramos, estudamos, encaramos o maluco trânsito ou relaxamos com uma música. Eu uso ela para alimentar minha escrita.

Nesse instante, o texto que lê é acompanhado por uma voz feminina que respeito muito. Nina Simone teve opiniões fortes e necessárias que chegam até meus ouvidos pela escolha de letras do seu repertório. Canta em sua voz envolvente: “Eu tenho vida. Eu tenho minha liberdade. Ohhh! Eu tenho a vida!” (Ain’t Go No/ I Got Life. 1968)

Falei em outro texto, nesse blog, que o silêncio é fundamental para meu processo criativo. Meu silêncio é, muitas vezes, habitado por músicas. Elas me acompanham na escolha de palavras. Música, essa arte que tem resquícios históricos de mais de 200 mil anos, acompanhado os humanos em seus afazeres cotidianos. Meu silêncio de escritor pede música.


O cantor gaúcho Nei Lisboa diz assim em seu disco Noves Fora (1984):

“A palavra sobre o papel. Palavra que não adianta.

Palavra quando não canta, não olha, não molha. Não faz brotar.”

Paradoxal? Talvez. A palavra no papel espera ser regada para ter vida.

Em minha profissão uso da palavra para contar aos leitores sobre minhas sensações com o mundo e a música é parceira da escrita. A música revela os mais profundos pensamentos que nem sabia que ali estavam, entrando em minha mente e irrigando partes do cérebro para que as palavras fiquem dançantes, soltas e dispostas a trazer minhas sensações para o papel.

Sempre a criatividade. O termo vem do latim creare que significa dar existência, relacionar ideias para um determinado fim. Antes de começar a escrever ouço minhas ideias, penso em um título (que é o motor de minha história) e escolho uma música que pode potencializar minhas ideias e aumentar minha capacidade de concentração.

Como a música estimula a criatividade?

Sabemos que nosso cérebro é formado por dois hemisférios. O esquerdo, que ativa a lógica, raciocínio, números, linguagem. E o hemisfério direito, que lida com intuição, imaginação e criatividade. Quando ouvimos música, o lado direito provoca a imaginação e faz com que as emoções venham à tona e, por seu lado, o hemisfério esquerdo provoca que observemos a letra da música (quando tem) as figuras que a paisagem rítmica oferece, o ritmo que toca. Ambos os hemisférios conversam, irrigam o cérebro com oxigênio, alimentam as ideias que fluem com leveza.

Pensamos sempre a música como produto cultural, mas o impulso que a música causa em nós, humanos é ativador da expressão. Música tem a capacidade de evocar imagens, sentimentos e, além disso, remexer em memórias que estão lá guardadas por longo prazo.

Então voltemos ao papo inicial: quem alimenta quem? A música ativa no cérebro o que é fundamental para que o meu processo criativo fique desperto. Um escritor precisa de imagens, sentimentos e percepção para descrever um lugar e ambientar as pessoas e seus estados de espírito. Por sua vez, a escrita dá à uma música o lugar por ela merecido considerando que há uma música para cada ocasião.

Escrevo diariamente com uma música curta na cabeça, mas que alimenta meu processo de escrita:


"Tudo é uma questão de manter. A mente quieta. A espinha ereta. E o coração tranquilo." ( Walter Franco. 1978)

O fato é que a trilha sonora para alimentar o processo criativo é aberta assim como o texto também o é. Solta o som que a palavra será alimentada em ti.


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