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  • Foto do escritorAndré Soltau

Com a Palavra: Betinho Russi

André Soltau . Outono 2020





Não falta assunto com esse homem que tem uma vitalidade incrível para relembrar, contar e fazer, de sua cidade, imagens estonteantes. Betinho Russi é um daqueles encontros que deixa a gente sempre com vontade de saber mais e mais. Mas ele está à procura de novos enquadramentos na cidade e quer brindar a gente com sensíveis imagens.


Como essa agilidade na memória e conexões entre espaço e tempo o Betinho consegue lembrar da infância na beira do rio e, noutra frase identificar o que tem hoje no lugar e como era no passado. Betinho aponta a rua e já diz como foi um dia, indica o canal e fala das transformações que a navegação passou nas últimas décadas e ainda conta as aventuras dele menino por esses recantos.


Disse ele sobre o rio:


“No rio o divertimento nosso ou era escorregar na lama, no barranco mesmo ou pegar a batêra ir até o meio do rio, virá-la e ficar embaixo. Era a farra e, às vezes, pescávamos um camarão branco que tinha do outro lado da margem.”


Me deixei envolver com o tema. Nasci do lado de um rio e minhas brincadeiras eram as mesmas. Mas as histórias de Betinho me remetem à uma Itajaí que não está mais aqui e que pulsa ainda em memórias do rio caudaloso e limpo. Da pescaria farta e dos meninos brincando sem medo da água poluída.


Dei à fala de Betinho um cuidado literário. Ficou assim:


O menino franzino gostava de uma aventura às margens do rio. Chuva lá fora? No dia seguinte teria um escorregador de lama na barranca do rio. Às vezes ia à margem oposta pegar um camarão branco não sem antes virar a batêra no meio do rio para ficar escondido embaixo da madeira molhada, se divertindo com o sol que entrava nas pequenas frestas. Ainda lembra da mistura de cheiro do piche que veda os buracos com os restos de peixe presos nos cantos da velha batêra.


No projeto PALAVRA D’ÁGUA vasculhamos as memórias desta cidade e encontramos dois personagens sempre presentes nas fotografias captadas em tempos de outrora: o rio e o mar. Nas falas de Betinho, ambos estão vivos no que ele nos conta.

BETINHO RUSSI é parte desse projeto com suas palavras sempre esclarecedoras e suas conexões entre temas que se entrecruzam. Suas frases são habitadas por nomes de pessoas, cheiros das ruas e de como a paisagem foi transformando-se para ser o que é hoje.

Sempre grato pelo tempo dado em longas (e elucidativas) conversas.



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